Abordagem dos receios e preocupações dos doentes com diabetes mellitus tipo 2 na consulta: perspetiva do médico e do doente
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i3.13994Palavras-chave:
Diabetes mellitus tipo 2, Complicações, SofrimentoResumo
Introdução: A diabetes mellitus tipo 2, doença crónica necessita especial e adequado seguimento médico, implicando o conhecimento do sofrimento por com ela viver.
Objetivos: Estudar as preocupações e receios de Pessoa que sofre de diabetes mellitus tipo 2 (PDM2) e comparar a sua abordagem pelo médico de medicina geral e familiar (MGF), com as experiências das PDM2.
Métodos: Estudo observacional multifásico, quali-quantitativo, inicialmente entrevistando PDM2 e questionando em redes específicas de conversação para saber de preocupações e receios. Realizou-se análise temática de conteúdo, indutiva, com recurso a Excel, sendo todas as questões resolvidas por consenso. Foi realizado questionário semelhante a MGF em rede específica de conversação e presencialmente a PDM2 em quatro Unidades de Saúde Familiar (USF), pessoas e unidades escolhidas em conveniência.
Resultados: Por entrevistas a 40 PDM2, 52,5% mulheres, 35,0% maiores de 65 anos e 32,5% com idade inferior a 50 anos foram revelados quatro temas principais: receio de complicações, sofrimento, preocupações com cuidados médicos e receios quanto à medicação. Segunda fase com entrevistas pela mesma investigadora a 44 PMD2 sem diferenças significativas nos temas, segundo as variáveis sociodemográficas estudadas. Para 97,7% das PDM2, a abordagem destes temas em consulta melhoraria o controlo da DM2. Todos os entrevistados afirmaram ausência de questionamento sobre complicações/consequências da doença, sofrimento pela DM2 e preocupações relacionadas com os cuidados médicos. Para as mesmas questões, 44,3%, 62,5% e 70,5% dos médicos referiram não as questionarem. Nos receios com a medicação, 93,2% das PDM2 não referiu questionamento e 25,0% dos médicos afirmou não questionar.
Discussão/Conclusão: A abordagem em consulta de MGF dos quatro temas principais, receios de complicações, fatores de sofrimento, preocupações quanto a seguimento médico e medos pela medicação encontrados, ainda não estava percebida na perspetiva da Medicina Centrada na Pessoa, podendo a sua abordagem pelos MGF melhorar o controlo da PDM2.
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