Caracterização dos utentes que recorrem ao médico de família com problemas dentários e seus registos de saúde nos cuidados de saúde primários
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i3.14009Palavras-chave:
Doenças estomatognáticas, Medicina de família e comunidade, Codificação clínicaResumo
Introdução: Os problemas dentários são muito prevalentes e associam-se a comorbilidades comuns. Isso é particularmente importante na medicina geral e familiar, que aborda todo o tipo de doentes e constitui frequentemente o primeiro contacto com o sistema de saúde.
Objetivos: Caracterizar a população que recorre a unidades de cuidados de saúde primários com problemas dentários, assim como o registo e classificação clínicos associados.
Métodos: Realizou-se um estudo observacional transversal dos utentes do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego com classificação ICPC-2 de problemas dentários ativos a 31/dezembro/2021. Esses utentes foram analisados segundo características sociodemográficas, tipo de unidade de saúde de inscrição, utilização de cheque-dentista e comorbilidades.
Resultados: Obteve-se uma amostra de 5.335 doentes, 70% inscritos em USF, 29,5% em UCSP e 0,5% não inscritos. Foi observada uma maior prevalência de problemas dentários em Condeixa-a-Nova (2,1%). A maioria dos utentes era do sexo feminino (57,3%) e maioritariamente adultos (54,0%). Em número absoluto, a mulher teve maior número de cheques-dentista emitidos e não utilizados e, em termos relativos, o homem foi menos utilizador do cheque-dentista. Foram os jovens quem mais cheques-dentista recebeu. o Capítulo ICPC-2 mais associado à patologia dentária foi o músculo-esquelético, seguindo-se o endócrino, metabólico e nutricional. As comorbilidades mais frequentes foram alteração do metabolismo dos lípidos, perturbação depressiva e excesso de peso. As diferenças geográficas na classificação de problemas dentários podem dever-se a problemas sociais e à diferente atuação das equipas médicas. A maior frequência no sexo feminino pode traduzir maior preocupação das mulheres com a saúde oral. A baixa prevalência em idosos, grupo de risco possivelmente subdiagnosticado, impõe a necessidade de medidas corretivas.
Conclusões: A patologia dentária no âmbito dos cuidados de saúde primários na região do Baixo Mondego carece de atenção, nomeadamente na sua classificação como problema de saúde.
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