A capacitação em função da comunicação com a pessoa que sofre de diabetes mellitus tipo 2
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i3.14016Palavras-chave:
Diabetes mellitus tipo 2, Literacia, Capacitação, Comunicação, Qualidade, ControloResumo
Objetivos: Avaliar a capacitação de pessoas sofrendo de diabetes mellitus tipo 2 (PsDM2) pelo Patient Enablement Instrument (PEI), em função da comunicação com o médico, avaliada pelo Communication Assessment Tool (CAT), segundo o contexto sociodemográfico.
Métodos: Estudo transversal observacional de caráter académico e clínico, realizado nas USF Mondego e Manuel Cunha no concelho de Coimbra, em amostra de conveniência de tamanho representativo, recrutada entre julho e outubro/2023. Aplicaram-se PEI, CAT e as variáveis de contexto, idade, sexo, nível de escolaridade, rendimento mensal, tipo de família, com as três últimas, calculando-se o Socio-Economic Deprivation Index (SEDI). Utilizou-se estatística descritiva e inferencial, qui-quadrado, testes não paramétricos e correlacionais.
Resultados: A amostra (n=110), constituída maioritariamente por homens (57,3%) e idosos (65,5% com ³65 anos), vivia acompanhada (76,4%) e apresentou níveis de escolaridade (52,7%) e rendimento mensal (62,7%) acima do mínimo. A última consulta de vigilância da diabetes ocorrera há três-seis meses para 51,8% e 51,8% julgaram não ter a sua doença controlada. Verificaram-se diferenças significativas segundo o grupo etário para o sexo (p=0,027), escolaridade (p=0,001) e rendimento (p=0,002). A correlação de Spearman entre SEDI e PEI foi fraca, negativa e significativa (ρ=-0,197, p=0,039), entre SEDI e CAT foi fraca, positiva e não significativa (ρ=0,084, p=0,382) e entre PEI e CAT foi negativa, fraca e não significativa (ρ=-0,119, p=0,217).
Discussão: Em amostra masculina mais jovem e feminina mais idosa verificaram-se níveis de escolaridade e rendimento mais baixos para os indivíduos com idade ³65 anos. Classe socioeconómica mais alta associou-se a maior perceção da qualidade da comunicação do médico e classe socioeconómica mais baixa a maior capacitação. Estas são matérias centrais para melhores resultados em saúde a serem percebidas pelos médicos.
Conclusão: Os médicos devem ter em atenção a classe socioeconómica das PsDM2 com quem comunicam.
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