Delirium: quando os culpados se misturam (relato de caso)

Autores

  • Sara Cunha Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar (USF Oceanos, Unidade Local de Saúde de Matosinhos)
  • Carina Pereira Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar (USF Oceanos, Unidade Local de Saúde de Matosinhos)

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v36i2.12085

Resumo

Introdução: O diagnóstico de delirium pode tornar-se complexo dadas as suas múltiplas etiologias e apresentações, surgindo frequentemente por descompensação de doença orgânica. Conhecer os seus fatores precipitantes e predisponentes é fundamental para a realização de um diagnóstico precoce, que permita uma atuação rápida e eficaz e a minimização das suas complicações.

Descrição do caso: Utente do género masculino, de 72 anos, com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2 controlada com medidas não farmacológicas (HbA1c 6,3%), síndrome demencial e hiperplasia benigna da próstata.

Em março de 2016 inicia bromidrato de darifenacina na consulta de urologia, por quadro de imperiosidade miccional, suspensa dois meses depois por início de alterações do comportamento e xerostomia. Na semana seguinte, por agravamento do quadro cognitivo-comportamental, recorre a neurologista que prescreve um suplemento alimentar. O utente é posteriormente trazido à Unidade de Saúde por persistência destas alterações, apresentando polaquiúria, perda ponderal de 12 kg, polifagia e polidipsia (ingestão marcada de fruta e de detergente da louça). Apresentava desorientação, pesquisa glicémica Hi e tira-teste urinária com cetonúria e proteinúria. Foi referenciado ao Serviço de Urgência, sendo constatada uma Síndrome Hiperosmolar Hiperglicémica (HbA1c 12,3%), com hipernatremia e insuficiência renal aguda. Um mês depois, em consulta de reavaliação nos Cuidados de Saúde Primários, encontrava-se assintomático e dentro do seu comportamento habitual, medicado com metformina 1000 mg id e sitagliptina 50 mg bid.

Comentário: Défice cognitivo pré-existente, idade avançada e género masculino são alguns dos fatores que mais frequentemente predispõem a delirium. No caso clínico citado, tanto a introdução de fármacos de novo como a descompensação da diabetes mellitus poderão ter contribuído para as alterações de comportamento verificadas. As especificidades do doente idoso, particularmente a pluripatologia e polipragmasia a que está sujeito, constituem frequentemente fatores de confundimento perante alterações do estado clínico.

Palavras-chave: demência, delirium, diabetes mellitus tipo 2, cuidados de saúde primários

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Publicado

29-04-2020

Como Citar

Delirium: quando os culpados se misturam (relato de caso). (2020). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 36(2), 169-74. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v36i2.12085

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