CADASIL: a propósito de um caso clínico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i1.12952

Palavras-chave:

CADASIL, Recetor NOTCH3, Demência, Demência vascular, Leucoencefalopatias, Acidente vascular cerebral

Resumo

Introdução: A arteriopatia cerebral autossómica dominante com enfartes subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL) é a doença de pequenos vasos cerebrais hereditária mais comum, causada por mutações no gene NOTCH3. As suas manifestações clínicas iniciam-se tipicamente em adultos jovens e incluem enxaqueca com aura, acidentes isquémicos transitórios (AIT) e acidentes vasculares cerebrais recorrentes, perturbações psiquiátricas e demência. O diagnóstico é estabelecido através de teste genético. Este relato de caso tem como objetivo alertar para esta entidade clínica, destacando a sintomatologia, diagnóstico, orientação e prognóstico.

Descrição do caso: Mulher de 51 anos, avaliada em 2011 na sua unidade de saúde familiar por hipoestesia da hemiface e membro superior direitos. Ao exame neurológico apresentava diminuição da sensibilidade tátil do hemicorpo direito. Encaminhada para o serviço de urgência efetuou tomografia computorizada crânio-encefálica, que evidenciou leucoencefalopatia isquémica microangiopática, tendo tido alta, após reversão dos défices, com diagnóstico de AIT e medicada com ácido acetilsalicílico. Acompanhada em consulta de neurologia realizou ressonância magnética (RMN) cerebral que revelou leucoencefalopatia isquémica, tendo sido medicada com estatina. Apresentou mais três AIT até 2018, quando efetuou RMN cerebral que evidenciou lesões sugestivas de CADASIL. O estudo genético foi positivo. Atualmente com 60 anos, após múltiplos eventos isquémicos, a doente refere esquecimentos cada vez mais frequentes, dificuldades na nomeação e na fluência verbal, sendo evidente o declínio progressivo da sua cognição e a sua subsequente limitação funcional.

Comentário: Não existe tratamento eficaz para a CADASIL. A sua abordagem consiste em aconselhamento genético, controlo de fatores de risco vascular e de sintomas. Representando um desafio diagnóstico, o médico de família poderá assumir um papel importante na sua suspeição, considerando o conhecimento privilegiado do indivíduo e sua família. Por último, o médico de família acompanhará o doente em todas as fases da evolução da doença, fornecendo-lhe o suporte necessário a ele e à sua família.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Guimarães J, Azevedo E. Causas genéticas de acidente vascular cerebral isquémico. Arq Med. 2010;24(1):23-8.

Chabriat H, Joutel A, Dichgans M, Tournier-Lasserve E, Bousser MG. Cadasil. Lancet Neurol. 2009;8(7):643-53.

Wang MM. CADASIL. Handb Clin Neurol. 2018;148:733-43.

Davous P. CADASIL: a review with proposed diagnostic criteria. Eur J Neurol. 1998;5(3):219-33.

Razvi SS, Davidson R, Bone I, Muir KW. The prevalence of cerebral autosomal dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leucoencephalopathy (CADASIL) in the west of Scotland. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2005;76(5):739-41.

Moreton FC, Razvi SS, Davidson R, Muir KW. Changing clinical patterns and increasing prevalence in CADASIL. Acta Neurol Scand. 2014;130(3):197-203.

Narayan SK, Gorman G, Kalaria RN, Ford GA, Chinnery PF. The minimum prevalence of CADASIL in northeast England. Neurology. 2012;78(13):1025-7.

Di Donato I, Bianchi S, De Stefano N, Dichgans M, Dotti MT, Duering M, et al. Cerebral autosomal dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy (CADASIL) as a model of small vessel disease: update on clinical, diagnostic, and management aspects. BMC Med. 2017;15(1):41.

Vikelis M, Xifaras M, Mitsikostas DD. CADASIL: a short review of the literature and a description of the first family from Greece. Funct Neurol. 2006;21(2):77-82.

Hervé D, Chabriat H. CADASIL. J Geriatr Psychiatry Neurol. 2010;23(4):269-76.

Locatelli M, Padovani A, Pezzini A. Pathophysiological mechanisms and potential therapeutic targets in cerebral autosomal dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy (CADASIL). Front Pharmacol. 2020;11:321.

Peters N, Opherk C, Bergmann T, Castro M, Herzog J, Dichgans M. Spectrum of mutations in biopsy-proven CADASIL: implications for diagnostic strategies. Arch Neurol. 2005;62(7):1091-4.

Van Giau V, Bagyinszky E, Youn YC, An SS, Kim SY. Genetic factors of cerebral small vessel disease and their potential clinical outcome. Int J Mol Sci. 2019;20(17):4298.

Hack RJ, Rutten J, Oberstein SA. CADASIL. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, Wallace SE, editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle: University of Washington; 2000 Mar 15 [updated 2019 Mar 14]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1500/

Lahkim M, Laamrani FZ, Andour H, Gharbaoui Y, Sanhaji L, El-Fenni J, et al. Cadasil syndrome: a case report with a literature review. Radiol Case Rep. 2021;16(11):3540-3.

Donnini I, Nannucci S, Valenti R, Pescini F, Bianchi S, Inzitari D, et al. Acetazolamide for the prophylaxis of migraine in CADASIL: a preliminary experience. J Headache Pain. 2012;13(4):299-302.

Bousser M, Tournier-Lasserve E. Cerebral autosomal dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy: from stroke to vessel wall physiology. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2001;70(3):285-7.

Downloads

Publicado

11-03-2022

Como Citar

CADASIL: a propósito de um caso clínico. (2022). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 38(1), 96-102. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i1.12952