Terá a teleconsulta impacto na morbimortalidade dos doentes com patologias crónicas?
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i2.13152Palavras-chave:
Teleconsulta, Doença crónica, Cuidados de saúde primários, Morbilidade e mortalidadeResumo
Objetivo: Determinar se existem diferenças entre o acompanhamento por teleconsulta e o acompanhamento habitual nos doentes com patologias crónicas, nos cuidados de saúde primários e secundários, no que concerne à redução da morbilidade e mortalidade.
Fontes dos dados: MEDLINE/PubMed, NHS Evidence, The Cochrane Library e Turning Research Into Practice.
Métodos: Pesquisa de estudos observacionais, ensaios clínicos e revisões sistemáticas nas línguas portuguesa e inglesa, publicados entre janeiro de 2000 e agosto de 2020, utilizando os termos MeSH Chronic Disease, Telemedicine, Remote Consultation, Primary Health Care e General Practice. Para avaliação dos níveis de evidência e da força de recomendação foi aplicada a escala Strength of Recommendation Taxonomy (SORT), da American Family Physician.
Resultados: Obtiveram-se 260 estudos, dos quais apenas oito cumpriram os critérios de inclusão. Cinco dos estudos revelaram benefício significativo na morbimortalidade com o recurso a teleconsulta, face aos cuidados habituais, nomeadamente: melhoria da qualidade de vida e diminuição do número de internamentos em doentes com múltiplas comorbilidades; diminuição de sintomas álgicos e depressão associados a dor músculo-esquelética crónica; diminuição da hospitalização e mortalidade por todas as causas e diminuição de recurso a cuidados de saúde adicionais no caso da insuficiência cardíaca. Dois estudos demonstraram resultados sobreponíveis entre os doentes teleconsultados e os doentes sob cuidados habituais, relativamente ao número de exacerbações e recurso a cuidados de saúde adicionais em doentes asmáticos, número e duração de reinternamento por doença pulmonar obstrutiva crónica ou insuficiência cardíaca e na mortalidade e recursos de cuidados de saúde adicionais nos doentes com múltiplas comorbilidades.
Conclusão: Esta revisão demonstrou não haver um consenso claro quanto aos resultados dos indicadores de morbimortalidade em utentes com patologias crónicas, acompanhados por teleconsulta. Ainda assim, a maioria dos estudos demonstrou benefício do uso de teleconsulta nos indicadores de morbimortalidade dos doentes acompanhados por teleconsulta relativamente aos doentes acompanhados por método habitual. Embora não consonantes, os estudos encontrados demonstraram resultados pelo menos sobreponíveis, e não inferiores, na utilização da teleconsulta quando comparada com o acompanhamento habitual dos doentes. E, considerando a qualidade dos estudos encontrados, são necessários mais estudos neste âmbito para aumentar a robustez dos resultados encontrados e permitir a generalização à prática clínica diária.
Downloads
Referências
Catapan SC, Calvo MC. Teleconsultation: an integrative review of the doctor-patient interaction mediated by technology. Rev Bras Educ Med. 2020;11(1):e002.
World Health Organization. Telemedicine: opportunities and developments in member states [Internet]. Geneva: WHO; 2010. Available from: https://www.who.int/goe/publications/goe_telemedicine_2010.pdf
Serviço Nacional de Saúde. Consultas em telemedicina: dados mensais [homepage]. Lisboa: Ministério da Saúde; 2020 [cited 2020 Aug]. Available from: https://www.sns.gov.pt/monitorizacao-do-sns/consultas-em-telemedicina/
Versluis A, van Luenen S, Meijer E, Honkoop PJ, Pinnock H, Mohr DC, et al. SERIES: eHealth in primary care. Part 4: addressing the challenges of implementation. Eur J Gen Pract. 2020;26(1):140-5.
Pordata. População residente: idade mediana [homepage]. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos; 2020 [updated 2022 Mar 2; cited 2020 Aug]. Available from: https://www.pordata.pt/Europa/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente+idade+mediana-2265
Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Infográfico INSA: doença crónica [homepage]. Lisboa: INSA; 2019 Feb 11 [cited 2020 Aug]. Available from: https://www.insa.min-saude.pt/infografico-insa-%E2%94%80-doenca-cronica/
Fraser S, Mackean T, Grant J, Hunter K, Towers K, Ivers R. Use of telehealth for health care of indigenous peoples with chronic conditions: a systematic review. Rural Remote Health. 2017;17(3):4205.
Pinnock H, Bawden R, Proctor S, Wolfe S, Scullion J, Price D, et al. Accessibility, acceptability, and effectiveness in primary care of routine telephone review of asthma: pragmatic, randomised controlled trial. BMJ. 2003;326(7387):477-9.
Ritchie CS, Houston TK, Richman JS, Sobko HJ, Berner ES, Taylor BB, et al. The E-Coach technology-assisted care transition system: a pragmatic randomized trial. Transl Behav Med. 2016;6(3):428-37.
Kroenke K, Krebs EE, Wu J, Yu Z, Chumbler NR, Bair MJ. Telecare collaborative management of chronic pain in primary care: a randomized clinical trial. JAMA. 2014;312(3):240-8.
Billington J, Coster S, Murrells T, Norman I. Evaluation of a nurse-led educational telephone intervention to support self-management of patients with chronic obstructive pulmonary disease: a randomized feasibility study. COPD. 2015;12(4):395-403.
Valdivieso B, García-Sempere A, Sanfélix-Gimeno G, Faubel R, Librero J, Soriano E, et al. The effect of telehealth, telephone support or usual care on quality of life, mortality and healthcare utilization in elderly high-risk patients with multiple chronic conditions: a prospective study. Med Clin. 2018;151(8):308-14.
Krum H, Forbes A, Yallop J, Driscoll A, Croucher J, Chan B, et al. Telephone support to rural and remote patients with heart failure: the Chronic Heart Failure Assessment by Telephone (CHAT) study. Cardiovasc Ther. 2013;31(4):230-7.
Porath A, Irony A, Borobick AS, Nasser S, Malachi A, Fund N, et al. Maccabi proactive Telecare Center for chronic conditions: the care of frail elderly patients. Isr J Health Policy Res. 2017;6(1):68.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0.
Os autores concedem à RPMGF o direito exclusivo de publicar e distribuir em suporte físico, electrónico, por meio de radiodifusão ou em outros suportes que venham a existir o conteúdo do manuscrito identificado nesta declaração. Concedem ainda à RPMGF o direito a utilizar e explorar o presente manuscrito, nomeadamente para ceder, vender ou licenciar o seu conteúdo. Esta autorização é permanente e vigora a partir do momento em que o manuscrito é submetido, tem a duração máxima permitida pela legislação portuguesa ou internacional aplicável e é de âmbito mundial. Os autores declaram ainda que esta cedência é feita a título gratuito. Caso a RPMGF comunique aos autores que decidiu não publicar o seu manuscrito, a cedência exclusiva de direitos cessa de imediato.
Os autores autorizam a RPMGF (ou uma entidade por esta designada) a actuar em seu nome quando esta considerar que existe violação dos direitos de autor.