Penfigoide bolhoso e mieloma múltiplo: um relato de caso

Autores

  • Joana Catarina Santos Mendes Médica Interna de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar, USF S. Félix/Perosinho, ACeS Espinho/Gaia http://orcid.org/0000-0003-2950-167X
  • Rui Miguel Tavares Costa Médico Assistente de Medicina Geral e Familiar, USF S. Félix/Perosinho, ACeS Espinho/Gaia

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i6.13199

Palavras-chave:

Dermatoses bolhosas, Penfigoide bolhoso, Neoplasias malignas, Mieloma múltiplo, Relato de caso

Resumo

Introdução: As doenças cutâneas bolhosas autoimunes são patologias raras, sendo o penfigoide bolhoso a doença bolhosa autoimune subepidérmica mais comum. A ocorrência concomitante de penfigoide bolhoso e neoplasias malignas tem sido relatada na literatura; contudo, a evidência dessa associação permanece controversa. Este relato de caso tem como objetivo sensibilizar para a existência desta patologia, a sua possível associação com as neoplasias malignas, nomeadamente com o mieloma múltiplo, e realçar a importância de várias características da medicina geral e familiar.

Descrição do caso: Descreve-se o caso de uma mulher de 73 anos, com antecedentes de diabetes mellitus, hipertensão arterial e perturbação depressiva recorrente. Sem hábitos alcoólicos, tabágicos ou toxifílicos. Constitui uma família de tipo unitário.  Apresentou-se, ao longo de várias consultas, com quadro de lesões cutâneas (inicialmente lesões inespecíficas e posteriormente lesões bolhosas tensas), associadas a prurido, sintomas constitucionais e anemia, iniciados quase concomitantemente. Foram efetuados os diagnósticos de penfigoide bolhoso e mieloma múltiplo. A doente foi submetida a tratamento com corticoterapia oral, tendo obtido resolução completa da sintomatologia cutânea. Iniciou, posteriormente, quimioterapia, com melhoria dos sintomas constitucionais. Permanece autónoma, a habitar sozinha, com bom suporte familiar por parte dos filhos.

Comentário: O penfigoide bolhoso é uma patologia cutânea para a qual os médicos de família devem estar alerta. A sua possível associação com as neoplasias malignas não se encontra comprovada. Ainda assim, em doentes com diagnóstico recente de penfigoide bolhoso, embora não se possa recomendar a pesquisa de neoplasias para além dos rastreios oncológicos habitualmente preconizados, sugere-se que seja efetuada uma avaliação abrangente, sobretudo se existirem sinais e sintomas suspeitos.  O caso clínico exposto realça ainda a importância de praticamente todas as características da medicina geral e familiar na prestação de cuidados de saúde.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Pezzolo E, Naldi L. Epidemiology of major chronic inflammatory immune-related skin diseases in 2019. Expert Rev Clin Immunol. 2020;16(2):155-66.

Yang M, Wu H, Zhao M, Chang C, Lu Q. The pathogenesis of bullous skin diseases. J Transl Autoimmun. 2019;2:100014.

Stavropoulos PG, Soura E, Antoniou C. Drug-induced pemphigoid: a review of the literature. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2014;28(9):1133-40.

Kalińska-Bienias A, Kowalczyk E, Jagielski P, Bienias P, Kowalewski C, Wozniak K. The association between neurological diseases, malignancies and cardiovascular comorbidities among patients with bullous pemphigoid: case-control study in a specialized Polish center. Adv Clin Exp Med. 2019;28(5):637-42.

Balestri R, Magnano M, La Placa M, Patrizi A, Angileri L, Tengattini V, et al. Malignancies in bullous pemphigoid: a controversial association. J Dermatol. 2016;43(2):125-33.

Jedlickova H, Hlubinka M, Pavlik T, Semradova V, Budinska E, Vlasin Z. Bullous pemphigoid and internal diseases: a case-control study. Eur J Dermatol. 2010;20(1):96-101.

Bernard P, Antonicelli F. Bullous pemphigoid: a review of its diagnosis, associations and treatment. Am J Clin Dermatol. 2017;18(4):513-28.

Allen J, Gay B, Crebolder H, Heyrman J, Svab I, Ram P, et al. A definição Europeia de medicina geral e familiar (clínica geral/medicina familiar) [The European definition of family medicine (general practice/family medicine). Rev Port Clin Geral. 2005;21(5):511-6. Portuguese

Lucariello RJ, Villablanca SE, Mascaró Jr JM, Reichel M. Association between bullous pemphigoid and malignancy: a meta-analysis. Australas J Dermatol. 2018;59(4):253-60.

Atzmony L, Mimouni I, Reiter O, Leshem YA, Taha O, Gdalevich M, et al. Association of bullous pemphigoid with malignancy: a systematic review and meta-analysis. J Am Acad Dermatol. 2017;77(4):691-9.

Ogawa H, Sakuma M, Morioka S, Kitamura K, Sasai Y, Imamura S, et al. The incidence of internal malignancies in pemphigus and bullous pemphigoid in Japan. J Dermatol Sci. 1995;9(2):136-41.

Wright B, Halper K, Worswick S. Bullous pemphigoid and malignancy in two different hospital populations: a retrospective cohort review. Oncology. 2020;98(5):318-20.

Lindelöf B. Pemphigoid and cancer. Arch Dermatol. 1990;126(1):66-8.

Harati A, Brockmeyer NH, Altmeyer P, Kreuter A. Skin disorders in association with monoclonal gammopathies. Eur J Med Res. 2005;10(3):93-104.

Wong DA, Hunt MJ, Stapleton K. IgA multiple myeloma presenting as an acquired bullous disorder. Australas J Dermatol. 1999;40(1):31-4.

Downloads

Publicado

30-12-2022

Como Citar

Penfigoide bolhoso e mieloma múltiplo: um relato de caso. (2022). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 38(6), 606-10. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i6.13199

Artigos Similares

1-10 de 1679

Também poderá iniciar uma pesquisa avançada de similaridade para este artigo.