Rabdomiólise precipitada por hipotiroidismo iatrogénico
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i2.13227Palavras-chave:
Hipotiroidismo, Doença iatrogénica, Medicina de família e comunidade, Rabdomiólise, MixedemaResumo
Introdução: A rabdomiólise é uma síndroma com várias etiologias. O médico de família (MF) pode contribuir para a sua investigação e para a articulação dos cuidados de saúde (CS) neste quadro, sendo fundamental uma boa acessibilidade aos CS e o acesso a meios complementares de diagnóstico (MCDT).
Descrição do caso: Utente do sexo feminino, 50 anos, com antecedentes de hipertensão arterial e hipertiroidismo tratado com iodo radioativo. Em 2019 recorre três vezes à consulta aberta num espaço de dois meses, por ausência da sua MF. Queixava-se de mialgias generalizadas, não tendo sido feita investigação complementar. A 11 de junho de 2019 dirige-se por sua iniciativa ao serviço de urgência (SU) por anasarca, toracalgia e dispneia, sendo diagnosticada rabdomiólise com indicação para estudo pelo MF. É observada pelo MF a 26 de junho, que pede análises e ecocardiograma, sendo diagnosticado hipotiroidismo iatrogénico por terapia com iodo radioativo. No mesmo dia é feita articulação telefónica com a endocrinologia e suplementação com levotiroxina. Na consulta com a MF, a 17 de julho, mantinha anasarca, dispneia e fervores bibasais na auscultação pulmonar. Por suspeita de insuficiência cardíaca descompensada e impossibilidade de realizar doseamento de NT-Pro-BNP foi encaminhada para o SU após contacto telefónico. Lá fizeram o seu doseamento, que era normal, excluindo-se esta patologia. A utente manteve-se medicada com levotiroxina, com valores flutuantes da função tiroideia, que apenas normalizaram após um ano.
Comentário: Os constrangimentos na acessibilidade a CS e os atrasos no pedido de MCDT levaram a um diagnóstico e tratamento tardio, tendo contribuído a articulação telefónica da MF com diferentes profissionais para tornar o processo mais célere. A indisponibilidade de doseamento de NT-Pro-BNP nos cuidados de saúde primários levou a uma referenciação ao SU que seria evitável, caso este MCDT fosse comparticipado.
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