Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso

Autores

  • Sara Leite Unidade de Saúde Familiar de Anta - ACeS Espinho/Gaia http://orcid.org/0000-0002-5211-4304
  • Antonieta Barbosa Assistente Graduada de Medicina Geral e Familiar. USF Anta, ACeS Espinho/Gaia. Espinho, Portugal.
  • Carla Cardoso Médica Interna de Medicina Geral e Familiar. USF Anta, ACeS Espinho/Gaia. Espinho, Portugal.
  • Catarina Santos Assistente Graduada de Neurologia. Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, EPE. Santa Maria da Feira, Portugal.
  • Helena Milheiro Assistente Graduada de Medicina Geral e Familiar. USF Anta, ACeS Espinho/Gaia. Espinho, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v40i3.13314

Palavras-chave:

Doença neurodegenerativa, Paralisia supranuclear progressiva, Disartria, Oftalmoplegia supranuclear

Resumo

Introdução: A paralisia supranuclear progressiva (PSP) é uma doença neurodegenerativa, cuja prevalência é de 2-7casos/100.000 indivíduos. No entanto, dado o desafio diagnóstico, prevê-se que estes dados estejam subestimados e que muitos doentes não cheguem a ser diagnosticados.

Descrição do caso: Mulher de 69 anos, com hipertensão arterial e hipotiroidismo controlados, recorreu em dezembro/2018 a consulta aberta na sua USF por se sentir triste, com choro fácil e com falta de iniciativa associado a episódios de ansiedade. Pela presunção do diagnóstico de depressão iniciou sertralina. Em janeiro/2019, em consulta programada, o seu MF detetou um discurso pouco fluente e lentificação psicomotora, facto que a doente não reconhecia como um problema. Após exclusão de causas identificáveis e reversíveis que justificassem o quadro clínico decidiu-se fazer uma referenciação aos cuidados de saúde hospitalares de neurologia. Em março, em neurologia, foi identificada a presença de disartria e de reflexos osteotendinosos ligeiramente vivos, interpretados em provável contexto de uma doença neuromuscular, que foi posteriormente descartada pela eletromiografia, ressonância magnética cerebral e estudo analítico normais. Em junho, a doente acrescentava dificuldades executivas e de escrita e destacava-se a presença de apraxia e disfunção frontal, pelo que se colocou em hipótese a presença de uma doença neurodegenerativa, identificada como possível afasia progressiva primária por uma avaliação neuropsicológica. No entanto, em janeiro/2020 verificou-se um agravamento dos sintomas prévios, foi descrita a presença de quedas ocasionais não provocadas e identificou-se uma discreta limitação do olhar vertical superior que se associou finalmente ao diagnóstico definitivo de PSP. Atualmente a doente é seguida pelo seu MF no que respeita ao seu tratamento paliativo e apoio psicológico à doente e respetiva família.

Comentário: O MF é responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente ao doente, assim como pela gestão da doença que se apresenta de forma indiferenciada numa fase precoce da sua história natural, características que colocam o MF numa posição privilegiada para diagnosticar, acompanhar, intervir e referenciar nas situações como a que é apresentada no presente caso clínico.

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Biografia do Autor

  • Sara Leite, Unidade de Saúde Familiar de Anta - ACeS Espinho/Gaia

    Médica interna de 1º ano na formação Especifica de MGF na USF Anta - ACeS Espinho/Gaia. 

    Doutorada em Ciências Cardiovasculares.

    Professora Auxiliar na FMUP.

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Publicado

08-07-2024

Como Citar

Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso. (2024). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 40(3), 306-12. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v40i3.13314

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