Rastreio da pré-eclâmpsia com doppler ou algoritmos preditivos: a sua realização é recomendada de acordo com a prática clínica baseada na evidência?

Autores

  • Filipa Guerra Médica de Família. USF Barquinha – ACeS Médio Tejo. Vila Nova da Barquinha, Portugal.
  • Catarina Viegas Dias Médica de Família. UCSP Olivais – ACeS Lisboa Central. Lisboa, Portugal. | Professora Convidada. NOVA Medical School, Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i5.13346

Palavras-chave:

Pré-eclâmpsia, Rastreio, Gravidez, Doppler, Biomarcadores

Resumo

Enquadramento: Nos últimos anos têm sido desenvolvidos algoritmos que estimam o risco de pré-eclâmpsia no primeiro trimestre, incluindo alguns o doppler da artéria uterina. Face à crescente convicção de alguns clínicos para adição de doppler à ecografia obstétrica, o qual não é comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde português, surgiu a necessidade de esclarecer se o rastreio com essas ferramentas tem benefício.

Objetivo: Avaliar se o rastreio da pré-eclâmpsia com o doppler da artéria uterina ou com um algoritmo preditivo, quando comparado com os cuidados habituais, tem benefício na morbimortalidade materno-fetal.

Método: Foi adotada a abordagem de cinco passos da prática clínica baseada na evidência (PCBE). No primeiro foi formulada uma pergunta pelo acrónimo PICO. O segundo incluiu a pesquisa de evidência, que foi encontrada ao nível de sumários, procedendo-se à sua análise (terceiro passo). O quarto consistiu na aplicação da evidência ao contexto clínico e no quinto refletiu-se sobre esse impacto.

Resultados: A evidência recolhida é consistente entre as três plataformas de sumários (DynaMed, UpToDate e BMJ Best Practice) e refere que atualmente não está recomendado o rastreio da pré-eclâmpsia com doppler ou algoritmos preditivos por não demonstrarem diminuição da morbimortalidade materno-fetal. Da análise da qualidade da evidência encontrada atribui-se uma recomendação fraca/condicional. Estes resultados apoiam-se essencialmente em três guidelines norte-americanas baseadas numa revisão sistemática de cinco ensaios clínicos. A taxa de falsos positivos do doppler é bastante elevada em gravidezes de baixo risco, podendo conduzir a ansiedade materna e custos em saúde.

Conclusões: Seguindo a abordagem da PCBE, esclareceu-se que o rastreio da pré-eclâmpsia com estas ferramentas não apresenta prova de benefício, podendo estar associado a potenciais riscos (falsos positivos, sobrediagnóstico). O rastreio deve consistir na avaliação dos fatores de risco de pré-eclâmpsia na primeira consulta pré-natal e na medição da pressão arterial ao longo da gravidez.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

August P, Sibai BM. Preeclampsia: clinical features and diagnosis. UpToDate [Internet]; s.d. [updated 2023 Oct 5; cited 2021 Jun 23]. Available from: https://www.uptodate.com/contents/preeclampsia-clinical-features-and-diagnosis?search=preeclampsia%20diagnosis&topicRef=6750&source=see_link

Brown MA, Magee LA, Kenny LC, Karumanchi SA, McCarthy FP, Saito S, et al. Hypertensive disorders of pregnancy: ISSHP classification, diagnosis, and management recommendations for international practice. Pregnancy Hypertens. 2018;13:291-310.

Sibai BM. Diagnosis, controversies, and management of the syndrome of hemolysis, elevated liver enzymes, and low platelet count. Obstet Gynecol. 2004;103(5 Pt 1):981-91.

Levine EM, editor. Hypertensive disorders of pregnancy. DynaMed [Internet]; s.d. [updated 2023 Mar 8; cited 2021 Jun 23]. Available from: https://www.dynamed.com/condition/hypertensive-disorders-of-pregnancy

The Fetal Medicine Foundation. Risk for preeclampsia: risk assessment [homepage]. The Fetal Medicine Foundation; s.d. [cited 2021 Jun 22]. Available from: https://fetalmedicine.org/research/assess/preeclampsia/first-trimester

Direção-Geral da Saúde. Programa nacional para a vigilância da gravidez de baixo risco. Lisboa: DGS; 2015.

National Institute for Health and Care Excellence. Antenatal care for uncomplicated pregnancies: clinical guideline CG62 [homepage]. Manchester: NICE; 2008 [updated 2019 Feb 4; cited 2021 Jun 22]. Available from: https://www.nice.org.uk/guidance/cg62/chapter/Introduction

US Preventive Services Task Force, Bibbins-Domingo K, Grossman DC, Curry SJ, Barry MJ, Davidson KW, et al. Screening for preeclampsia: US Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA. 2017;317(16):1661-7.

Rodrigues D, Dias CV, Heleno B. Como responder a dúvidas clínicas [How to answer to a clinical question]. Rev Port Med Geral Fam. 2019;35(2):155-66. Portuguese

Alper BS, Haynes RB. EBHC pyramid 5.0 for accessing preappraised evidence and guidance. Evid Based Med. 2016;21(4):123-5.

Warren MS, editor. Routine prenatal care. DynaMed [Internet]; s.d. [updated 2023 Oct 4; cited 2021 Jun 23]. Available from: https://www.dynamed.com/management/routine-prenatal-care-36#GUID-CDE8BB0C-4B44-40FD-B55C-B4FCAB0D23E0

Warren MS, editor. Prenatal ultrasound screening. DynaMed [Internet]; s.d. [updated 2022 Jun 25; cited 2021 Jun 24]. Available from: https://www.dynamed.com/evaluation/prenatal-ultrasound-screening#GUID-D80260D3-E755-47E0-BE53-E7AD29F08553

Walker JJ, Morley L. Pre-eclampsia. BMJ Best Practice [Internet]; s.d. [updated 2023 Jan 12; cited 2021 Jun 24]. Available from: https://bestpractice.bmj.com/topics/en-gb/326?q=Pre-eclampsia&c=suggested

ACOG Practice Bulletin no. 202: gestational hypertension and preeclampsia. Obstet Gynecol. 2019;133(1):1.

Downloads

Publicado

02-11-2023

Como Citar

Rastreio da pré-eclâmpsia com doppler ou algoritmos preditivos: a sua realização é recomendada de acordo com a prática clínica baseada na evidência?. (2023). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 39(5), 471-7. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i5.13346