Uma causa rara de diarreia: efeito pouco frequente de um medicamento comum
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i5.13360Palavras-chave:
Diarreia, Hipertensão arterial, Antagonistas dos recetores da angiotensina II, Olmesartan, Efeitos adversosResumo
Introdução: A hipertensão arterial (HTA) é uma doença crónica e um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Por essa razão, o doente hipertenso beneficia de um seguimento regular e orientado pelo seu médico de família (MF). O controlo tensional pode ser alcançado com medidas de estilo de vida ou também com recurso a terapêutica farmacológica. Desta última, salienta-se a classe dos antagonistas do recetor da angiotensina II (ARA), comummente utilizados na prática clínica pelo seu efeito anti-hipertensivo e perfil de segurança, sendo que em raras vezes pode causar diarreia crónica grave. O presente relato pretende dar a conhecer um diagnóstico raro e sensibilizar o MF para uma nova hipótese diagnóstica perante um quadro de diarreia crónica.
Descrição do caso: Mulher, 65 anos, com antecedentes pessoais de HTA medicada com olmesartan 20mg desde 2012, sem outros antecedentes pessoais de relevo. A doente iniciou um quadro de diarreia com um mês de evolução e que motivou inúmeras avaliações médicas. Associadamente, com queixas de cólica abdominal, náusea, vómitos, astenia e perda ponderal. Perante uma investigação em ambulatório inconclusiva e à ausência de melhoria clínica com os diversos tratamentos empíricos, a utente foi proposta para internamento para estudo etiológico. Ao longo do internamento, a descontinuação do olmesartan resultou na resolução do quadro, tendo tido alta com o diagnóstico de enteropatia sprue-like.
Comentário: O presente caso pretende enfatizar a importância de uma anamnese completa e detalhada, relembrar os principais passos no estudo da diarreia crónica e dar a conhecer um diagnóstico raro de enteropatia sprue-like induzida pelo olmesartan. Em concordância com as características da disciplina de medicina geral e familiar, caberá ao MF o acompanhamento longitudinal destes utentes, com consequente reavaliação e vigilância das queixas. Perante este diagnóstico levanta-se um novo desafio ao MF na ulterior orientação do controlo tensional destes utentes.
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