Aborto espontâneo e luto gestacional – Valorizar e gerir: um relato de caso
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v40i3.13450Palavras-chave:
Aborto espontâneo, Perda gestacional, Luto gestacional, Abordagem holística, Competência cultural, Relato de casoResumo
Introdução: O aborto espontâneo é muito comum e o seu impacto nas famílias, na sociedade e nos serviços de saúde é comprovado, mas subestimado. Este relato de caso pretende realçar a importância do acompanhamento após um aborto espontâneo, no luto, nos sintomas psicológicos associados à perda gestacional e na orientação holística do casal.
Descrição do caso: Mulher de 37 anos, natural do Nepal, engravida espontaneamente após múltiplas tentativas sem sucesso. Sofre um aborto espontâneo às 10 semanas de gestação e é avaliada pela sua equipa de família, manifestando sentimentos de tristeza, solidão, ansiedade e medo, e desorientação face aos cuidados necessários. O acompanhamento centrou-se no esclarecimento de dúvidas e mitos, no reconhecimento dos sentimentos do casal, na exploração das formas de expressão do luto na cultura de origem, nos ensinos para estimular mudanças de comportamentos e na capacitação para o planeamento de uma nova gravidez.
Comentário: Não existem intervenções farmacológicas eficazes para prevenir o aborto espontâneo; contudo, é uma oportunidade para intervir na adoção de hábitos de vida mais saudáveis. Apesar de frequentes, as consequências psicológicas e a psicopatologia associadas ao aborto espontâneo são muitas vezes esquecidas. A experiência do luto é individual e não se baseia necessariamente na idade gestacional, no nível socioeconómico ou educacional, ou no número de perdas ou de filhos vivos. Lidar com este caso exige à medicina geral e familiar avaliar a gestão do luto e o bem-estar físico e mental, despistando psicopatologia e acompanhando o planeamento de uma gravidez futura, atuando em cuidados transculturais e na dimensão social e familiar de cada um.
Downloads
Referências
Quenby S, Gallos ID, Dhillon-Smith RK, Podesek M, Stephenson MD, Fisher J, et al. Miscarriage matters: the epidemiological, physical, psychological, and economic costs of early pregnancy loss. Lancet. 2021;397(10285):1658-67.
World Health Organization. International Classification of Diseases 11th revision [homepage]. Geneva: WHO; 2022. Available from: https://www.who.int/standards/classifications/classification-of-diseases
American College of Obstetricians and Gynecologists’ Committee on Practice Bulletins—Gynecology. ACOG Practice Bulletin no. 200: early pregnancy loss. Obstet Gynecol. 2018,132(5):e197-e207.
National Institute for Health and Care Excellence. Ectopic pregnancy and miscarriage: diagnosis and initial management [homepage]. NICE; 2019 [updated 2023 Aug 23]. Available from: https://www.nice.org.uk/guidance/ng126
Coomarasamy A, Gallos ID, Papadopoulou A, Dhillon-Smith RK, Al-Memar M, Brewin J, et al. Sporadic miscarriage: evidence to provide effective care. Lancet. 2021;397(10285):1668-74.
Schott J, Henley A, Kohner N. Pregnancy loss and the death of a baby: guidelines for professionals. 3rd ed. Sands UK/Bosun Publications; 2017. ISBN 9780955424328
Shakespeare C, Merriel A, Bakhbakhi D, Blencowe H, Boyle FM, Flenady V, et al. The RESPECT Study for consensus on global bereavement care after stillbirth. Int J Gynaecol Obstet. 2020;149(2):137-47.
Farren J, Jalmbrant M, Falconieri N, Mitchell-Jones N, Bobdiwala S, Al-Memar M, et al. Posttraumatic stress, anxiety and depression following miscarriage and ectopic pregnancy: a multicenter, prospective, cohort study. Am J Obstet Gynecol. 2020;222(4):367e1-22.
Cassaday TM. Impact of pregnancy loss on psychological functioning and grief outcomes. Obstet Gynecol Clin North Am. 2018;45(3):525-33.
Morin F, Chalmers B, Ciofani L, de Montigny F, Gower S, Hanvey L, et al. Loss and grief. In: Public Health Agency of Canada. Family-centred maternity and newborn care: national guidelines [homepage]. Public Health Agency of Canada; 2020 [updated 2022 Aug 10]. Available from: https://www.canada.ca/en/public-health/services/maternity-newborn-care-guidelines.html
Setubal MS, Bolibio R, Jesus RC, Benute GG, Gibelli MA, Bertolassi N, et al. A systematic review of instruments measuring grief after perinatal loss and factors associated with grief reactions. Palliat Support Care. 2021;19(2):246-56.
Markin RD, Zilcha-Mano S. Cultural processes in psychotherapy for perinatal loss: breaking the cultural taboo against perinatal grief. Psychotherapy. 2018;55(1):20-6.
Chaves M. SSSR Presidential address rain dances in the dry season: overcoming the religious congruence fallacy. J Sci Study Relig. 2010;49(1):1-14.
Ayebare E, Lavender T, Mweteise J, Nabisere A, Nendela A, Mukhwana R, et al. The impact of cultural beliefs and practices on parents’ experiences of bereavement following stillbirth: a qualitative study in Uganda and Kenya. BMC Pregnancy Childbirth. 2021;21(1):443.
Sardinha J. Estratégias identitárias e esquemas de integração: os posicionamentos das associações angolanas, brasileiras e da Europa de Leste em Portugal [Identity strategies and integration schemes: the positionings of Angolan, Brazilian and Eastern European association in Portugal]. Rev Migrações. 2010;(6):59-80. Portuguese
Artigo 38º. Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro. Diário da República. I Série(30).
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2024 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0.
Os autores concedem à RPMGF o direito exclusivo de publicar e distribuir em suporte físico, electrónico, por meio de radiodifusão ou em outros suportes que venham a existir o conteúdo do manuscrito identificado nesta declaração. Concedem ainda à RPMGF o direito a utilizar e explorar o presente manuscrito, nomeadamente para ceder, vender ou licenciar o seu conteúdo. Esta autorização é permanente e vigora a partir do momento em que o manuscrito é submetido, tem a duração máxima permitida pela legislação portuguesa ou internacional aplicável e é de âmbito mundial. Os autores declaram ainda que esta cedência é feita a título gratuito. Caso a RPMGF comunique aos autores que decidiu não publicar o seu manuscrito, a cedência exclusiva de direitos cessa de imediato.
Os autores autorizam a RPMGF (ou uma entidade por esta designada) a actuar em seu nome quando esta considerar que existe violação dos direitos de autor.