Proporção de sinais e sintomas ICPC2 indevidamente colocados como doença crónica em medicina geral e familiar: um estudo preliminar no Centro de Portugal

Autores

  • Joana Pinto Coelho Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra https://orcid.org/0000-0003-1556-6704
  • Maria Teresa Reis USF Topázio, ACeS Baixo Mondego
  • Luiz Miguel Santiago Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra USF Topázio, ACES Baixo Mondego http://orcid.org/0000-0002-9343-2827

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i2.13471

Palavras-chave:

Medicina geral e familiar, Classificação, Registos clínicos, Lista de problemas, ICPC-2, CSP

Resumo

Objetivo: Identificar “sinais e sintomas” dos capítulos da ICPC-2 inapropriadamente classificados como ativos e crónicos, verificando a sua proporção e principais capítulos.

Métodos: Estudo observacional e transversal, quasi-aleatório, com características exploratórias, pela colheita de dados das consultas de todas as terças, quartas e sextas-feiras do mês de agosto de 2021, nas consultas de dois ficheiros clínicos. Fez-se a análise descritiva da lista de problemas ativos dos utentes e registo das classificações consideradas inapropriadas.

Resultados: Foram avaliados os dados de 123 doentes, 52,8% do sexo feminino e com idade média de 53,3±22,4 anos. Verificámos que 45,5% dos doentes apresentavam classificações erradamente crónicas, sendo 8,2% classificações erradas. Os capítulos músculo-esquelético (16,3%), psicológico (7,3%) e os capítulos genital feminino, circulatório e geral e inespecífico (todos com 5,7%) foram os mais frequentes. Em função do género e idade, não se verificou diferença significativa, mas quanto maior era o número de classificações totais, maior era o número de classificações erradamente colocadas.

Discussão: Os resultados podem significar um impacto negativo no acompanhamento do doente, na comunicação entre médicos, no aumento do tempo despendido nas consultas, por não atualização da lista de problemas, e na diminuição da credibilidade dos registos para investigação. A elevada prevalência dos sintomas músculo-esqueléticos pode levar à manutenção destes problemas como crónicos. A pandemia COVID-19 pode ser associada a um maior número de sinais e sintomas transitórios, mas classificados como ativos. Um grande número de problemas ativos pode afetar a capacidade de classificar.

Conclusão: A atualização, periódica, da lista de problemas, o investimento na formação dos médicos de família na ICPC-2 e a avaliação frequente das classificações parecem atividades a desenvolver. São necessários mais estudos de validação da informação classificada nos sistemas de registo eletrónico.

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Biografia do Autor

  • Luiz Miguel Santiago, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra USF Topázio, ACES Baixo Mondego

    Luiz Miguel de Mendonça Soares Santiago é Licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra desde 1979, Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Coimbra desde 2006 e Doutorado por unanimidade com distinção e louvor, pela Universidade de Coimbra, na Especialidade de Sociologia Médica, ramo de Medicina Preventiva e Comunitária desde 11/11/2009.

    É desde1/7/2017 Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, regendo as Unidades Curriculares de MISP IV, 3º Ano e de Medicina Geral e Familiar, 5º Ano.

    Desde 30 de Janeiro de 2018 tem o título de "Agregado".

    Médico, especialista em Medicina Geral e Familiar, é Consultor com o Grau de Assistente Graduado Sénior da Carreira de Medicina Geral e Familiar desde 2002, sendo orientador no Internato Complementar de Medicina Geral e Familiar desde 2006, tendo exercido na Unidade de Saúde Familiar Topázio em Coimbra, onde ainda continua actividade clínica, agora reduzida.

    Professor Associado Convidado da Universidade da Beira Interior, onde é regente das cadeiras de CSP I, II e III entre 2011 e 2017.

    Desde 2014 até 2017 foi Professor Adjunto Convidado da Coimbra Health Scholl lecionando Patologia Geral.   

    Membro da Academia Europeia de Professores em Medicina Geral e Familiar (EURACT) é orientador de Teses de Mestrado Integrado e de Mestrado Pré-Bolonha bem como de Doutoramento, na Universidade de Coimbra (2) e na Universidade da Beira Interior (6).

    É membro da Comissão de Ética da ARS do Centro.

    Tem vasta bibliografia publicada individualmente e em co-autoria em revistas nacionais e internacionais com “revisores-par” e indexadas (27 artigos).

    Desde março de 2017 é membro investigador do CEISUC, FEUC.

    Em Novembro de 2017 é eleito sócio correspondente da Academia Nacional de Medicina.

    Aguarda a marcação de Provas de Agregação a serem prestadas na Universidade da Beira Interior.

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Publicado

03-05-2023

Como Citar

Proporção de sinais e sintomas ICPC2 indevidamente colocados como doença crónica em medicina geral e familiar: um estudo preliminar no Centro de Portugal. (2023). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 39(2), 132-9. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i2.13471

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