À descoberta de quem sou: um caso clínico

Autores

  • Cristina Pais Médica Assistente de Medicina Geral e Familiar. USF Vale do Vouga, ULS Entre Douro e Vouga. São João da Madeira, Portugal.
  • Diana P. Coelho Médica Assistente de Medicina Geral e Familiar. USF Vale do Vouga, ULS Entre Douro e Vouga. São João da Madeira, Portugal.
  • Rosa de Pinho Médica Assistente Graduada Sénior de Medicina Geral e Familiar. USF Vale do Vouga, ULS Entre Douro e Vouga. São João da Madeira, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i4.13779

Palavras-chave:

Identidade de género, Incongruência de género, Caso clínico

Resumo

Introdução: A identidade de género de um indivíduo reflete um sentimento profundo e experimentado do seu próprio género. Nos últimos anos assistimos a um aumento significativo de relatos de incongruência de género, tornando-se fundamental a atualização dos profissionais de saúde nesta temática. Assim, pretende-se relembrar os critérios de identificação precoce da incongruência de género e de acompanhamento adequado pelo médico de família.

Descrição do caso: Relata-se o caso de uma adolescente de 14 anos, com excesso de peso, trazida à consulta pela mãe, por preocupação com baixa autoestima e isolamento. Na consulta destacam-se múltiplos erros alimentares e sentimentos de tristeza, por considerar ser género fluído e tal não ser aceite pela família. Foram aconselhadas mudanças de estilo de vida, feita referenciação a psicologia clínica. Decorrido um mês objetiva-se obesidade, pelo que foi pedido estudo analítico e consulta de nutrição. Passados sete meses, a utente refere identificar-se com o género masculino e pretende fazer mudança de sexo. Nesta consulta identificaram-se sinais de comportamentos autolesivos e ideação suicida não estruturada. Perante este quadro depressivo com comportamentos autolesivos e compulsão alimentar foi prescrito escitalopram. Após início da terapêutica observou-se boa adaptação à medicação, diminuição dos episódios de compulsão alimentar, diminuição do IMC e ausência de comportamentos autolesivos e pensamentos suicidas. Posteriormente procedeu-se à referenciação para pedopsiquiatria.

Comentário: O médico de família é, na maioria das vezes, o primeiro contacto do utente com os cuidados de saúde, assumindo uma posição privilegiada para o diagnóstico precoce de compreender o desenvolvimento da identidade de género do indivíduo, a sua experiência atual e objetivos futuros, de modo a melhorar o bem-estar psicológico, qualidade de vida e sensação de autorrealização do utente, acompanhando muitas vezes o percurso de mudança de sexo do indivíduo e de aceitação da família.

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Referências

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Publicado

05-09-2025

Como Citar

À descoberta de quem sou: um caso clínico. (2025). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 41(4), 363-9. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i4.13779

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