A espiritualidade e a boa morte
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v40i6.13804Palavras-chave:
Boa morte, Dignidade, Espiritualidade, Religiosidade, TranscendênciaResumo
O presente artigo breve assenta numa revisão bibliográfica, com pesquisa de artigos científicos na base de dados PubMed (MEDLINE), para além da consulta de outras publicações alusivas ao tema. O principal objetivo é a valorização da espiritualidade nas suas várias dimensões, tendo em vista o seu real contributo para descomplicar o processo da morte. A espiritualidade, como vertente do cuidar e do bem-estar do doente e pela força interior e crescimento pessoal que poderá suscitar, constitui um suporte indispensável na proximidade da morte. A aceitação da morte pela Pessoa no final da sua vida, constitui um fator essencial para a tranquilidade da mesma e, concomitantemente, um objetivo realizado pelos cuidadores e profissionais implicados. Nesta fase, o discurso e a expressão de sentimentos, assim como a procura da transcendência tendo em vista a dignidade no processo de morrer e a concretização da “boa morte”, representam necessidades espirituais marcantes. Há que encontrar sentido “relendo a própria história”. A morte na solidão do hospital impera e dificilmente assegura as condições propícias para a dignidade exigível em fim de vida ao ser entendida como uma derrota na luta contra a doença, denunciadora de um modo de morrer mecanizado e desumanizado. As necessidades espirituais em fim de vida exigem do profissional inserido numa equipa multidisciplinar a indispensável competência e noção dos limites da sua atuação. São obrigações essenciais o saber ouvir, ser empático e responder à angústia instalada. Nos cuidados pré-terminais, o profissional deverá centrar-se no saber ser e não no saber fazer. É nesta fase de antecipação da morte que é possível captar o valor único e irrepetível da Pessoa e da sua dignidade.
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