Luto: atitudes médicas e expectativas das pessoas no ambiente de medicina geral e familiar

Autores

  • Beatriz Domingos MD. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal.
  • Luiz Miguel Santiago MD, PhD. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal | Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra (CEISUC). Coimbra, Portugal | Clínica Universitária e Medicina Geral e Familiar, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal.
  • Carlos Seiça Cardoso MD, PhD. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal | Clínica Universitária e Medicina Geral e Familiar, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal | Assistente de Medicina Geral e Familiar. USF Condeixa, ULS Coimbra. Condeixa-a-Nova, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i4.14012

Palavras-chave:

Luto, Distúrbio de luto prolongado, Empatia, Terapêutica, Medicina centrada no doente, Medicina geral e familiar

Resumo

Introdução: O luto, resposta personalizada a perda de ente significativo, origina frequentemente recurso a consulta médica.

Objetivo: Avaliar e comparar as atitudes a usar por médicos de medicina geral e familiar (m-MGF) e as expectativas das pessoas enlutadas.

Métodos: Realizou-se estudo observacional transversal, exploratório, em amostra de m-MGF, escolhidos em conveniência e de pessoas que tiveram luto há menos de um ano, aplicando caso clínico especificamente realizado e resposta a semelhantes atitudes médicas e expectativas em escolha múltipla fechada e opção aberta. A aplicação decorreu após consulta e também remotamente, com convite pelo m-MGF, segundo critérios de inclusão. Realizaram-se análise de legibilidade do texto e estatística descritiva e inferencial dos dados.

Resultados: Em amostra de 21 m-MGF, 13 (46,4%) mulheres e n=12 (57,1%) especialistas e de 20 pessoas, n=15 (75,0%) sendo mulheres. Verificaram-se diferenças significativas nas respostas de m-MGF e pessoas (p<0,001), sendo o aconselhamento empático a opção mais escolhida por m-MGF (69,6%) e pessoas (27,5%). Para 91,7% dos especialistas apenas foi assinalado aconselhamento empático e os internos de especialidade responderam com mais opções (p=0,014). As pessoas escolheram mais associações de atitudes terapêuticas (31,7%, n=13) do que os MGF (2,4%, n=1, p<0,001).

Discussão: As diferenças encontradas neste estudo inédito, simultaneamente académico e ligado à prática, quanto às atitudes médicas e expectativas das pessoas perante um caso de luto, sugerem a necessidade de uma abordagem mais abrangente pelos médicos para a gestão de pessoas em luto, como o uso de empatia, medicina centrada na pessoa e prescrição social.

Conclusão: Nesta amostra, perante as mesmas atitudes e expectativas, verificaram-se diferenças entre m-MGF e pessoas. Os médicos optaram sobretudo pelo aconselhamento empático (69,6%) e as pessoas por outras abordagens simultâneas.

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Publicado

05-09-2025

Como Citar

Luto: atitudes médicas e expectativas das pessoas no ambiente de medicina geral e familiar. (2025). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 41(4), 316-24. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i4.14012

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