Luto: atitudes médicas e expectativas das pessoas no ambiente de medicina geral e familiar
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i4.14012Palavras-chave:
Luto, Distúrbio de luto prolongado, Empatia, Terapêutica, Medicina centrada no doente, Medicina geral e familiarResumo
Introdução: O luto, resposta personalizada a perda de ente significativo, origina frequentemente recurso a consulta médica.
Objetivo: Avaliar e comparar as atitudes a usar por médicos de medicina geral e familiar (m-MGF) e as expectativas das pessoas enlutadas.
Métodos: Realizou-se estudo observacional transversal, exploratório, em amostra de m-MGF, escolhidos em conveniência e de pessoas que tiveram luto há menos de um ano, aplicando caso clínico especificamente realizado e resposta a semelhantes atitudes médicas e expectativas em escolha múltipla fechada e opção aberta. A aplicação decorreu após consulta e também remotamente, com convite pelo m-MGF, segundo critérios de inclusão. Realizaram-se análise de legibilidade do texto e estatística descritiva e inferencial dos dados.
Resultados: Em amostra de 21 m-MGF, 13 (46,4%) mulheres e n=12 (57,1%) especialistas e de 20 pessoas, n=15 (75,0%) sendo mulheres. Verificaram-se diferenças significativas nas respostas de m-MGF e pessoas (p<0,001), sendo o aconselhamento empático a opção mais escolhida por m-MGF (69,6%) e pessoas (27,5%). Para 91,7% dos especialistas apenas foi assinalado aconselhamento empático e os internos de especialidade responderam com mais opções (p=0,014). As pessoas escolheram mais associações de atitudes terapêuticas (31,7%, n=13) do que os MGF (2,4%, n=1, p<0,001).
Discussão: As diferenças encontradas neste estudo inédito, simultaneamente académico e ligado à prática, quanto às atitudes médicas e expectativas das pessoas perante um caso de luto, sugerem a necessidade de uma abordagem mais abrangente pelos médicos para a gestão de pessoas em luto, como o uso de empatia, medicina centrada na pessoa e prescrição social.
Conclusão: Nesta amostra, perante as mesmas atitudes e expectativas, verificaram-se diferenças entre m-MGF e pessoas. Os médicos optaram sobretudo pelo aconselhamento empático (69,6%) e as pessoas por outras abordagens simultâneas.
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