Prescrição de antimicrobianos em fim de vida
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i2.14204Palavras-chave:
Antibioterapia, Fim de vida, Cuidados paliativosResumo
As infeções e os episódios febris constituem complicações comuns em doentes em fase terminal.A literatura mostra-nos que cerca de 29% dos doentes admitidos no hospital encontram-se no seu último ano de vida. Apesar de não existirem dados acerca da prevalência e impacto das infeções neste período, estudos europeus e internacionais apontam para uma alta prevalência com impacto significativo na qualidade de vida, tempo de internamento, utilização de meios hospitalares de diagnóstico e terapêutica, sem benefício ou impacto na sobrevida e na qualidade de vida e contribuem para a emergência de microrganismos resistentes. Os efeitos adversos associados ao uso de antimicrobianos não devem por isso ser negligenciáveis. O síndroma de morte iminente nem sempre é corretamente identificado, promovendo a adoção de atitudes e terapêuticas desproporcionais, nomeadamente de prescrição antimicrobiana sem claro benefício no impacto prognóstico ou na qualidade de vida ou até resultar num agravamento do controlo sintomático, podendo mesmo vir a constituir uma ameaça à qualidade de vida, tanto pelos sintomas que pode causar como pelo potencial de iatrogenia quando a abordagem de cuidados passa pela tentativa do seu tratamento. Perante a inexistência de orientações para a prescrição antimicrobiana para esta população em específico recomenda-se que o diagnóstico e a decisão terapêutica sejam não só rigorosos, como ponderados, privilegiando o bem-estar do doente e respeitando o plano avançado de cuidados definido. Recomenda-se, por isso, que na definição de teto terapêutico a discussão do uso de antimicrobianos surja na mesma proporção com que se discutem outras manobras invasivas. A prescrição de antimicrobianos em cuidados paliativos deve, por isso, tratar-se de um modelo individual, partilhado com o doente e a família, resultante de uma decisão multidisciplinar e requer reavaliação regular, centrada no alívio sintomático e não na sobrevivência. É, assim, fundamental promover a formação em cuidados paliativos, como a inclusão do tema de fim de vida nos programas de controlo à prescrição de antimicrobianos. Os autores consideram que a abordagem às infeções em doentes em situação de fim de vida deve ser foco de investigação e seguir as melhores recomendações disponíveis para a garantia de cuidados centrados na pessoa e na sua dignidade e qualidade de vida.
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