Desejo de engravidar e doença psiquiátrica

Autores

  • Margarida Mesquita Médica Interna de Medicina Geral e Familiar - Centro de Saúde do Entroncamento

DOI:

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v24i3.10506

Palavras-chave:

Pseudociese, Desejo de Engravidar, Disfunção Familiar, Aconselhamento Pré-Concepcional, Perturbação da Personalidade borderline, Falsa Gravidez

Resumo

Este relato pretende evidenciar duas questões: o diagnóstico de pseudociese e de patologias associadas e a legitimidade do médico para interferir na decisão de engravidar de uma utente. Tratou-se de um desafio clínico com várias vertentes controversas; o perfil da utente criou dificuldades ao médico de família e ao sistema; a avaliação familiar revelou dados importantes para a interpretação dos problemas e surgiram questões éticas para as quais não se encontrou consenso entre pares. Relata-se o caso de uma mulher de 43 anos.Apresenta-se na consulta convicta de estar grávida, com amenorreia e sintomas que associa à gravidez. Com exame objectivo normal, são-lhe pedidos, sequencialmente, DIG, ecografia obstétrica e doseamentos hormonais que se revelam normais e excluem gravidez.Aos 3 meses de amenorreia, a utente mantém a mesma convicção, as queixas, e «sente o bébé a mexer». Manifesta, entretanto, um intenso desejo de engravidar e pede a opinião do Médico de Família. Esta nulípara é viúva e reformada, pertence à classe média-baixa de Graffard, e vive com o pai e com o companheiro recente, ambos com problemas de abuso do álcool. Tem antecedentes familiares e pessoais de patologia psiquiátrica grave. Recorre a cerca de 15 consultas anuais no Centro de Saúde e a consultas frequentes fora do Serviço Nacional de Saúde. Mantém uma atitude manipuladora e transfere para o médico a responsabilidade sobre a sua saúde. O diagnóstico da perturbação psiquiátrica subjacente a este episódio revelou-se controverso pois a pseudociese pode ser encarada ou como um distúrbio somatoforme isolado, ou, dados os antecedentes psiquiátricos, um delírio enquadrado numa perturbação de personalidade borderline. Estas duas hipóteses determinam, à partida, atitudes muito diferentes perante a possibilidade de uma gravidez. As atitudes a tomar perante os vários desafios deste caso foram discutidas entre pares, sem consenso.

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Publicado

2008-05-01

Como Citar

Mesquita, M. (2008). Desejo de engravidar e doença psiquiátrica. Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 24(3), 374–84. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v24i3.10506

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