Investigação em medicina geral e familiar: tendências e vazios
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v36i5.12686Keywords:
Medicina geral e familiar, InvestigaçãoAbstract
Introdução e objetivo(s): A produção científica de uma especialidade é um sinal de vitalidade e de autorreflexão indispensável à identidade de qualquer disciplina científica. O estudo pretende descrever a investigação original efetuada por especialistas ou internos da especialidade de medicina geral e familiar (MGF) publicada na Acta Médica Portuguesa (AMP), na Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (RPMGF) e nos livros de resumos do Congresso Nacional e Encontro Nacional da APMGF.
Métodos: Foram incluídos todos os trabalhos de investigação original, estudos de avaliação e melhoria da qualidade concluídos por especialistas ou internos de MGF publicados entre janeiro de 2014 e 31 de outubro de 2018 na RPMGF e AMP e todos os abstracts publicados nos livros de resumos do Encontro e Congresso Nacional de MGF, da APMGF, de 2015 a 2018. Foram recolhidos dados relativos aos autores, das unidades de saúde envolvidas e do n total. Os trabalhos foram categorizados em grandes áreas temáticas sobre a qual incidiu a investigação (de acordo com agenda de investigação europeia-EGPRN) e as patologias em estudo (de acordo com a ICPC-2).
Resultados: Foram analisadas 587 referências, das quais 283 foram incluídas por cumprirem os critérios de elegibilidade. Os internos de MGF são autores/coautores dos estudos em 82,6% dos casos e os especialistas em 71,8% dos estudos. Existe um autor pertencente à academia médica em 18,2% dos estudos. Quase a totalidade dos estudos são quantitativos (n=274) e observacionais (n=216). A maioria dos estudos recolheu dados da população de uma ou duas unidades de saúde (n=153), o valor mínimo de participantes foi de 23 numa comunicação oral e o máximo de 12.467.427 num estudo da AMP. As áreas temáticas relacionadas com a gestão de cuidados de saúde primários (n=108) e as competências de resolução de problemas específicos (n=161) são as mais investigadas. Os principais problemas de saúde estudados pertencem aos capítulos A, T, P e K da ICPC-2. Destaca-se o facto de nenhum estudo abordar a «Orientação para a comunidade» ou a «Abordagem holística» da especialidade de MGF.
Discussão: Os resultados encontrados são semelhantes aos descritos em outros estudos portugueses e internacionais. Será importante repensar o papel da vertente biopsicossocial na especialidade de MGF e que caminhos poderão levar a responder a perguntas sobre estas temáticas. O presente artigo poderá facilitar a estruturação de uma agenda de investigação adequada aos cuidados de saúde primários portugueses.
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