Náuseas no Natal: o papel do médico de família no diagnóstico de doença grave
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v34i4.12480Palabras clave:
Médico de família, Cuidados de saúde primários, Linfoma.Resumen
Introdução: O médico de família (MF) é com frequência o primeiro contacto do utente com os cuidados de saúde, lidando com a doença numa fase precoce e cujos sintomas são ainda inespecíficos. Com este caso pretende-se promover a reflexão sobre o papel do MF nas várias etapas do processo diagnóstico, bem como as características da medicina geral e familiar e dos cuidados de saúde primários que o facilitam. Descrição do caso: Mulher de 48 anos, pertencente a uma família reconstruída e índice socioeconómico III de Graffar. Tem antecedentes pessoais de síndroma depressivo (medicada com fluoxetina), encontrando-se em climatério. Recorreu à consulta por náuseas e enfartamento com dez dias de evolução, episódio de vómito isolado na véspera de Natal e prurido generalizado. Objetivamente apresentava dor discreta à palpação epigástrica. Foi medicada sintomaticamente e pediu-se avaliação analítica e ecografia abdominal. Regressou três dias depois por icterícia das escleróticas e acolia, mantendo náuseas. Negava colúria ou febre. Os exames complementares de diagnóstico vieram a revelar analiticamente uma hiperbilirrubinemia conjugada; ecograficamente apresentava marcada dilatação da via biliar principal, imagem nodular no corpo/cauda pancreáticos e múltiplos conglomerados adenopáticos adjacentes aos grandes vasos. Não apresentava sintomas consumptivos evidentes. Pediu-se tomografia computorizada abdominal que revelou conglomerado adenopático envolvendo a cabeça do pâncreas, traduzindo provável doença linfoproliferativa. Foi referenciada com caráter urgente à consulta de hemato-oncologia onde se confirmou o diagnóstico: linfoma não-Hodgkin B difuso de grandes células. Cumpriu oito ciclos de quimioterapia e atualmente encontra-se em remissão. Comentário: Apesar de a tomada de decisão do MF dever basear-se no padrão de morbilidade da comunidade e no contexto sociocultural do doente, não deve ser desvalorizada a diversidade de hipóteses de diagnóstico que poderão resultar da evolução natural da doença. O MF deve suportar-se das vantagens da continuidade e da acessibilidade aos cuidados para este processo, potenciando assim o seu papel diagnóstico.Descargas
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