Quando o tratamento se torna causa da doença
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v37i6.12882Palabras clave:
Cefaleia, Enxaqueca, Analgésicos, Abuso medicamentoso, Cefaleia por uso excessivo de medicamentos.Resumen
Introdução: A cefaleia é uma queixa frequente, não sendo raros os casos de automedicação. Este artigo relata a abordagem da cefaleia por uso excessivo de medicamentos (CUEM) numa doente automedicada com analgésicos, cuja intervenção foi dificultada pela má adesão ao acompanhamento médico.
Descrição do Caso: Mulher de 41 anos, empregada de limpeza. Antecedentes de enxaqueca desde a adolescência, agravada depois do segundo parto, com episódios semanais, sem alívio após tentativa de vários fármacos. Em 2015, após referenciação para consulta de neurologia, iniciou profilaxia com amitriptilina, tendo suspendido precocemente e abandonado o seguimento. Nos três anos seguintes teve consultas motivadas por doença aguda na unidade de saúde familiar, sem acompanhamento regular. Por persistência da enxaqueca recorreu ao serviço de urgência em jan/2018, onde foi referenciada novamente à consulta de neurologia, constatando-se automedicação com paracetamol + codeína, vinte supositórios em cada episódio de enxaqueca (com duração de três dias). Iniciou profilaxia com topiramato e agendou-se nova consulta. Suspendeu topiramato por emagrecimento e faltou à consulta. Recorreu à consulta da médica de família (MF) em jan/2019, referindo tristeza, insónia, obstipação e emagrecimento. Mantinha os episódios semanais de enxaqueca e o uso de supositórios. Após despiste de causa orgânica diagnosticou-se perturbação depressiva e CUEM. Explicou-se que o abuso medicamentoso poderia causar cefaleia e que o tratamento passaria pela cessação do fármaco. Foi medicada com antidepressivos e, nas consultas de reavaliação, constatou-se recuperação ponderal, melhoria do humor, cefaleia menos frequente e redução do uso de supositórios até à abstinência.
Comentário: A CUEM desenvolve-se pelo uso excessivo de medicação para a cefaleia, sendo a suspensão da medicação o único tratamento eficaz. A doente manteve uma situação de abuso medicamentoso durante oito meses, tendo como consequência uma CUEM e correndo risco de toxicidade hepática. O MF é fulcral na deteção e abordagem precoce do abuso medicamentoso.
Descargas
Referencias
European Headache Federation. Princípios europeus da abordagem das cefaleias comuns nos cuidados de saúde primários [homepage]. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Cefaleias; 2010. Available from: http://www.cefaleias-spc.com/comunidade/documentos/
Wootton RJ, Wippold II FJ, Whealy MA. Evaluation of headache in adults. UpToDate [Internet]; 2020 [updated 2021 Aug 12; cited 2020 Feb 10]. Available from: https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-headache-in-adults
Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS). The international classification of headache disorders, 3rd ed. Cephalalgia. 2018;38(1):1-211.
Becker WJ, Findlay T, Moga C, Scott NA, Harstall C, Taenzer P. Guideline for primary care management of headache in adults. Can Fam Physician. 2015;61(8):670-9.
Grupo de Estudio de Cefaleas de la SEN. Guías diagnósticas y terapéuticas de la Sociedad Española de Neurología 2015. Madrid: Sociedad Española de Neurología; 2015. ISBN 9788415198994
Rebelo L. A família em medicina geral e familiar: conceitos e práticas. Coimbra: Almedina; 2018. ISBN 9789724073132
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2021 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
Los autores otorgan a RPMGF el derecho exclusivo de publicar y distribuir en medios físicos, electrónicos, de radiodifusión u otros medios que pueda existir el contenido del manuscrito identificado en esta declaración. También otorgan a RPMGF el derecho de usar y explorar el presente manuscrito, es decir, de ceder, vender o licenciar su contenido. Esta autorización es permanente y entra en vigor desde el momento en que se envía el manuscrito, tiene la duración máxima permitida por la legislación portuguesa o internacional aplicable y tiene un alcance mundial. Los autores declaran además que esta transferencia se realiza de forma gratuita. Si la RPMGF informa a los autores que ha decidido no publicar su manuscrito, la cesión exclusiva de derechos cesa inmediatamente.
Los autores autorizan a RPMGF (oa una entidad que éste designe) a actuar en su nombre cuando considere que existe una infracción a los derechos de autor.