Ninguém nasce com micose
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i5.13365Palavras-chave:
Mau alinhamento congénito ungueal do hálux, Onicomicose, Anomalias ungueaisResumo
Introdução: O mau alinhamento congénito ungueal do hálux carateriza-se pelo desvio lateral do prato ungueal, com consequente hiperqueratose e distrofia ungueal. Sem etiologia completamente esclarecida, reconhecem-se causas genéticas e fatores extrínsecos, tais como microtraumatismos recorrentes. Esta condição é frequentemente mal diagnosticada e tratada como onicomicose. Comummente, este desvio está presente desde o nascimento, surgindo alterações ungueais habitualmente nos primeiros anos de vida. Na maioria dos casos, verifica-se apenas um desvio ligeiro que pode passar despercebido até à infância tardia/puberdade, quando ocorrem alterações ungueais marcadas resultantes de stress mecânico. Os casos sem distrofia significativa não carecem de intervenção. Nos restantes, está indicado o tratamento conservador com formulações tópicas de ureia.
Descrição do caso: Menina de 7 anos, previamente saudável, foi referenciada à consulta de Dermatologia pela Médica de Família por “onicomicose das unhas dos háluxes” refratária a tratamento com antifúngicos tópicos nos últimos 18 meses. Ao exame objetivo, apresentava unhas de coloração amarelo-acastanhada e hiperqueratose com distrofia de ambos os háluxes, valgismo bilateral dos primeiros dedos e distrofia ungueal dos segundos dedos dos pés, sem sinais inflamatórios. A menina apresentava alterações ungueais desde o nascimento, sem história de trauma, e o pai apresentava um quadro idêntico, também resistente ao tratamento com antifúngicos, desde há vários anos. Foi assumido o diagnóstico de distrofia ungueal secundária ao mau alinhamento congénito ungueal dos háluxes. Recomendou-se a aplicação de um creme de ureia e raspagem das unhas de acordo com o conforto da criança.
Comentário: O conhecimento desta entidade permite estabelecer um correto diagnóstico, evitando tratamentos desnecessários e possíveis efeitos adversos. Sublinha-se a importância de uma história clínica cuidada, com destaque para o início do quadro clínico e a existência de quadros semelhantes na família. A aparência ungueal dismórfica desde o nascimento ou primeira infância deverá alertar para uma condição diferente de onicomicose, sendo esta infrequente em idades tão precoces.
Downloads
Referências
Perlis CS, Telang GH. Congenital malalignment of the great toenails mimicking onychomycosis. J Pediatr. 2005;146(4):575.
Wagner G, Sachse MM. Congenital malalignment of the big toe nail. J Dtsch Dermatol Ges. 2012;10(5):326-30.
Catalfo P, Musumeci ML, Lacarrubba F, Dinotta F, Micali G. Congenital malalignment of the great toenails: a review. Skin Appendage Disord. 2018;4(4):230-5.
Correia O. As unhas e o desportista: reconhecer, tratar, prevenir (2/2). Rev Med Desp Informa. 2012;3(5):8-12.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0.
Os autores concedem à RPMGF o direito exclusivo de publicar e distribuir em suporte físico, electrónico, por meio de radiodifusão ou em outros suportes que venham a existir o conteúdo do manuscrito identificado nesta declaração. Concedem ainda à RPMGF o direito a utilizar e explorar o presente manuscrito, nomeadamente para ceder, vender ou licenciar o seu conteúdo. Esta autorização é permanente e vigora a partir do momento em que o manuscrito é submetido, tem a duração máxima permitida pela legislação portuguesa ou internacional aplicável e é de âmbito mundial. Os autores declaram ainda que esta cedência é feita a título gratuito. Caso a RPMGF comunique aos autores que decidiu não publicar o seu manuscrito, a cedência exclusiva de direitos cessa de imediato.
Os autores autorizam a RPMGF (ou uma entidade por esta designada) a actuar em seu nome quando esta considerar que existe violação dos direitos de autor.