Sífilis secundária com VDRL não reativo: um caso clínico de fenómeno prozona?
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v40i4.13549Palavras-chave:
Doença sexualmente transmissível, Sífilis secundária, VDRL não reativo, Fenómeno prozonaResumo
Introdução: A sífilis é uma doença sexualmente transmissível provocada pela bactéria Treponema pallidum. É uma infeção prevenível e tratável. Pode apresentar várias manifestações, consoante o seu estadio – primário, secundário ou latente. O fenómeno de prozona é uma situação rara em que, pelo excesso de anticorpos na sífilis secundária, o VDRL apresenta um resultado qualitativo falso-negativo. Este caso clínico tem como objetivo sensibilizar para a existência deste fenómeno e da importância do senso clínico.
Descrição do caso: Utente do sexo masculino de 44 anos, sem antecedentes relevantes, recorre a consulta de doença aguda por lesões cutâneas dispersas pela face, tórax, dorso e membros superiores com um mês de evolução, associadas a quadro sistémico de artralgias, mialgias, sensação de perda de peso, adenopatias axilares e inguinais, cefaleias frontais, lacrimejo bilateral e zumbido. Na anamnese, o utente refere episódio de ida ao serviço de urgência, cerca de cinco meses antes, por aparecimento de lesão peniana indolor, tendo sido medicado com antibioterapia com posterior resolução da mesma. Menciona ainda a prática de relações sexuais desprotegidas. Perante a suspeita de sífilis, em fase secundária, foram solicitadas análises sanguíneas que revelaram VDRL não reativo e, para além disso, alterações hepáticas significativas. Dada a evolução incongruente da marcha diagnóstica, o utente foi enviado ao serviço de urgência, onde se confirmou o diagnóstico de sífilis secundária por reatividade do VDRL, TPHA e anticorpo anti-Treponema pallidum.
Comentário: Este caso demonstra a importância da priorização do senso clínico ao invés dos meios complementares de diagnóstico que, pelo seu resultado aparentemente contraditório, poderia ter alterado a conduta médica e, em última instância, a latência no diagnóstico e orientação terapêutica do utente, com potenciais complicações a longo prazo, nomeadamente o desenvolvimento de sífilis terciária.
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