Associação entre a realização de interrupção voluntária da gravidez e a tipologia de cuidados de saúde primários: um estudo transversal
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i4.13207Palabras clave:
Aborto legal, Serviços de planeamento familiar, Cuidados de saúde primários, Comportamento contracetivoResumen
Introdução: Melhor desempenho nos cuidados de planeamento familiar (PF) permitiria, teoricamente, reduzir as taxas de gravidezes indesejadas e, consequentemente, as interrupções voluntárias da gravidez (IVG).
Objetivos: Verificar a existência de associação entre fatores organizacionais dos cuidados de saúde primários (CSP) e o recurso à consulta de IVG do Hospital Beatriz Ângelo, na população de mulheres que a esta recorreu durante o ano de 2018.
Métodos: Estudo observacional, analítico e transversal. Os dados foram colhidos da base de dados da consulta de IVG do ano 2018 e do Registo de Saúde Eletrónico. Foi realizada uma análise estatística descritiva e inferencial utilizando o programa SPSS®.
Resultados: Cerca de 39,1% das mulheres que realizaram uma IVG pertenciam a uma UCSP, 38,3% a uma USF modelo A e 22,6% a uma USF modelo B, sendo que 21,5% não tinham médico de família (MF). Após ajuste dos dados verificou-se que as utentes de uma USF modelo B ou com MF realizaram significativamente menos IVG (p=0,009 e p=0,001, respetivamente). As utentes de USF modelo B tiveram mais consultas nos CSP (p<0,001) e utilizaram mais métodos contracetivos (p=0,022) nos 12 meses prévios à IVG. Também as mulheres com MF realizaram mais contraceção no ano anterior à IVG (p<0,001).
Conclusões: O melhor acesso aos CSP e o maior uso de contraceção que se verificam entre as utentes de USF modelo B ou com MF associam-se a uma menor realização de IVG. Ter MF mas, principalmente, pertencer a uma USF modelo B revela-se protetor face à realização de IVG, evidenciando a necessidade de atribuir MF a toda a população, melhorar a acessibilidade aos serviços de PF e incentivar a autonomia organizacional ao nível dos CSP.
Descargas
Referencias
Sedgh G, Bearak J, Singh S, Bankole A, Popinchalk A, Ganatra B, et al. Abortion incidence between 1990 and 2014: global, regional, and subregional levels and trends. Lancet. 2016;388(10041):258-67.
Yogi A, Prakash KC, Neupane S. Prevalence and factors associated with abortion and unsafe abortion in Nepal: a nationwide cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2018;18:376.
Llorente-Marrón M, Díaz-Fernández M, Méndez-Rodríguez P. Contextual determinants of induced abortion: a panel analysis. Rev Saude Publica. 2016;50:8.
Rodriguez-Alvarez E, Borrell LN, González-Rábago Y, Martín U, Lanborena N. Induced abortion in a Southern European region: examining inequalities between native and immigrant women. Int J Public Health. 2016;61(7):829-36.
Zurriaga O, Martínez-Beneito MA, Galmés Truyols A, Mar Torne M, Bosch S, Bosser R, et al. Recourse to induced abortion in Spain: profiling of users and the influence of migrant populations. Gac Sanit. 2009;23 Suppl 1:57-63.
Peipert JF, Madden T, Allsworth JE, Secura GM. Preventing unintended pregnancies by providing no-cost contraception. Obstet Gynecol. 2012;120(6):1291-7.
Birgisson NE, Zhao Q, Secura GM, Madden T, Peipert JF. Preventing unintended pregnancy: the contraceptive CHOICE Project in review. J Womens Health. 2015;24(5):349-53.
World Health Organization. Safe abortion: technical and policy guidance for health systems [Internet]. Geneva: WHO; 2015. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/173586/WHO_RHR_15.04_eng.pdf
Singh S, Remez L, Sedgh G, Kwok L, Onda T. Abortion worldwide 2017: uneven progress and unequal access [homepage]. New York: Guttmacher Institute; 2018. Available from: https://www.guttmacher.org/report/abortion-worldwide-2017
Direção-Geral da Saúde. Relatório dos registos das interrupções da gravidez: dados de 2016. Lisboa: DGS; 2017.
The Contraception Atlas. Limited access: Europe’s contraception deficit - a white paper [Internet]. Brussels: The European Parliamentary Forum on Population and Development; 2018. Available from: https://www.epfweb.org/sites/default/files/2020-05/786209755_epf_contraception-in-europe_white-paper_cc03_002.pdf
Direção-Geral da Saúde. Relatório dos registos das interrupções da gravidez, 2018. Lisboa: Direção-Geral da Saúde; 2018.
Levine EM, editor. Induced abortion. DynaMed [Internet]; 2018 [cited 2019 Feb 5]. Available from: https://www.dynamed.com/procedure/induced-abortion
Upadhyay UD, Desai S, Zlidar V, Weitz TA, Grossman D, Anderson P, et al. Incidence of emergency department visits and complications after abortion. Obstet Gynecol. 2015;125(1):175-83.
Gerdts C, Dobkin L, Foster DG, Schwarz EB. Side effects, physical health consequences, and mortality associated with abortion and birth after an unwanted pregnancy. Womens Health Issues. 2016;26(1):55-9.
Raymond EG, Grimes DA. The comparative safety of legal induced abortion and childbirth in the United States. Obstet Gynecol. 2012;119(2 Pt 1):215-9.
Limoncin E, D’Alfonso A, Corallino C, Cofini V, Di Febbo G, Ciocca G, et al. The effect of voluntary termination of pregnancy on female sexual and emotional well-being in different age groups. J Psychosom Obstet Gynaecol. 2017;38(4):310-6.
Campo-Arias A, Herazo E. Voluntary interruption of pregnancy in Colombia: contributions to the debate from public mental health. Rev Colomb Psiquiatr. 2018;47(4):201-3.
Biscaia AR, Heleno LC. Primary health care reform in Portugal: Portuguese, modern and innovative. Cienc Saude Colet. 2017;22(3):701-11.
Lapão LV, Pisco L. A reforma da atenção primária à saúde em Portugal, 2005-2018: o futuro e os desafios da maturidade [Primary health care reform in Portugal, 2005-2018: the future and challenges of coming of age]. Cad Saude Publica. 2019;35(Suppl 2):e00042418. Portuguese
Teixeira CJ. Diferentes modelos organizativos de cuidados de saúde primários apresentam diferenças no desempenho? [dissertation]. Faro: Faculdade de Economia da Universidade do Algarve; 2017.
Entidade Reguladora da Saúde. Estudo sobre as Unidades de Saúde Familiar e as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados [Internet]. Porto: ERC; 2016. Available from: https://www.ers.pt/uploads/writer_file/document/1792/ERS_-_Estudo_USF_e_UCSP_-_final.pdf
Serviço Nacional de Saúde. Bilhete de identidade dos cuidados de saúde primários [homepage]. Lisboa: Ministério da Saúde; 2019 [cited 2019 Dec 6]. Available from: https://bicsp.min-saude.pt/pt/Paginas/default.aspx
Ferreira PL, Raposo V. Monitorização da satisfação dos utilizadores das USF e de uma amostra de UCSP [Internet]. Coimbra: Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra; 2015. Available from: https://www.acss.min-saude.pt/wp-content/uploads/2016/11/Estudo_CSP.pdf
Pereira A, Nunes C, Botelho H, Biscaia JL, Barbosa M, Oliveira M, et al. Avaliação custos-consequências das USF B e UCSP 2015: unidades funcionais dos CSP como centros de resultados [Internet]. Lisboa: Coordenação Nacional para a Reforma do SNS; 2018. Available from: https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/02/CNCSP-Avalia%C3%A7%C3%A3o_USF-1.pdf
Santos CN, Chambel B, Prado González JJ. Perfil das mulheres que realizam interrupções voluntárias da gravidez: um estudo transversal [Profile of women who have voluntary interruptions of pregnancy: a cross-sectional study]. Acta Obstet Ginecol Port. 2022;16(1):10-21.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2022 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
Los autores otorgan a RPMGF el derecho exclusivo de publicar y distribuir en medios físicos, electrónicos, de radiodifusión u otros medios que pueda existir el contenido del manuscrito identificado en esta declaración. También otorgan a RPMGF el derecho de usar y explorar el presente manuscrito, es decir, de ceder, vender o licenciar su contenido. Esta autorización es permanente y entra en vigor desde el momento en que se envía el manuscrito, tiene la duración máxima permitida por la legislación portuguesa o internacional aplicable y tiene un alcance mundial. Los autores declaran además que esta transferencia se realiza de forma gratuita. Si la RPMGF informa a los autores que ha decidido no publicar su manuscrito, la cesión exclusiva de derechos cesa inmediatamente.
Los autores autorizan a RPMGF (oa una entidad que éste designe) a actuar en su nombre cuando considere que existe una infracción a los derechos de autor.