Medicina geral e familiar portuguesa - Os sucessos e os desafios: uma visão de fora

Resumo

Este estudo surgiu na sequência do programa de intercâmbio de médicos entre Portugal e o Reino Unido que se tem mantido desde 1990 associando o Royal College of General Practitioners e a APMCG. Objectivo: Identificar os êxitos no desenvolvimento da Medicina Geral e Familiar (MGF) em Portugal nos últimas duas décadas do século XX e os desafios futuros. Tipo de estudo: Observacional, descritivo e transversal, com recolha de dados qualitativos através de entrevista individual semi-estruturada a informadores-chave e discussão e validação dos resultados num workshop. População e Local: Médicos de Família (MF) Portugueses. Métodos: Em 2001 foram entrevistados dezoito MF portugueses, dos quais doze participaram no programa de intercâmbio sendo os outros dirigentes ou ex-dirigentes da APMCG, tendo-se procedido a análise de conteúdo. Pretendeu-se que os respondentes comentassem os sucessos da MGF enquanto carreira e serviço e os desafios que se lhe colocam em Portugal. Os resultados foram posteriormente discutidos e validados num workshop com cerca de 50 MF. Resultados: É sugerida uma visão muito positiva sobre o desenvolvimento da MGF em Portugal em termos de ensino pré-graduado, quanto ao Internato de Clínica Geral, e como carreira estruturada com cultura e identidade próprias. Houve um reconhecimento claro da melhoria na qualidade e na acessibilidade dos cuidados de saúde. Foi evidenciada preocupação pela falta de um sistema estruturado de formação profissional contínua e avaliação de desempenho e também quanto aos elevados níveis de carga de trabalho e stresse. Foram mencionados o facto de as remunerações não estarem ligadas à carga de trabalho, o lento desenvolvimento de sistemas informáticos clínicos, sistemas de gestão deficientes, a falta de uma cultura da prática clínica baseada no trabalho de equipa e a forte influência da indústria farmacêutica. Estes são os desafios que se colocam à MGF Portuguesa.