Motivar o doente: um trunfo esquecido na adesão ao tratamento?
DOI:
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i3.13325Palavras-chave:
Motivação, Entrevista motivacional, Adesão ao tratamentoResumo
A motivação do doente tem conhecidas implicações no seu processo de adesão ao projeto terapêutico. Na prática clínica, a parca motivação do utente dificulta a sua proatividade. Consequentemente, interfere negativamente com o cumprimento da medicação ou a adoção de estilos de vida saudáveis, prejudicando a abordagem de diversas patologias, sobretudo das crónicas. De um modo geral, os estudos revelam que a motivação do utente é um conceito largamente utilizado pelos profissionais de saúde, embora com uma definição imprecisa. Maioritariamente é encarada como um traço caracterial, que se traduz na dicotomia entre doente motivado/doente desmotivado, com um enviesamento para a segunda categorização. Esta perspetiva deposita apenas do lado do doente a capacidade da mudança, com consequências negativas para ambos os intervenientes da relação médico-doente. Porém, desde a publicação do Modelo da Entrevista Motivacional (EM), na década de 1980, têm sido documentadas técnicas específicas para aceder ao estado motivacional dos doentes, com vista à sua modificação. Tradicionalmente aplicados às perturbações de uso de substâncias, estes modelos têm mostrado benefício em diversos programas reabilitativos de doenças crónicas. O entendimento do estado motivacional do utente enquanto percurso dinâmico, permeável à modificação externa e passível de modelação por parte do profissional de saúde, aliado ao treino de competências nesta área, poderá melhorar prognósticos, aumentar a satisfação do utente e do profissional e reduzir gastos financeiros nos sistemas de saúde.
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